Orlando Pessuti pronto para assumir governo em 2010
Depois de vinte anos de mandatos na Assembleia Legislativa e trinta e duas vezes como governador interino, o vice-governador Orlando Pessuti (PMDB) está pronto para assumir o governo em abril de 2010. E também trava uma batalha feroz, internamente, no PMDB, para conseguir ser candidato à sucessão do governador Roberto Requião. Os percalços dessa empreitada e a sua delicada relação com o governador Roberto Requião são o tema desta entrevista que Pessuti concedeu.
O Estado do Paraná: O senhor assume mesmo o governo em 2010 ou tem alguma possibilidade de o governador Requião permanecer no cargo e desistir de disputar as eleições?
Orlando Pessuti: Eu estou convicto de que, em abril de 2010, nós iremos assumir o governo, até porque o governador Requião tem todo um projeto político traçado em relação à disputa como presidente da República ou então, como nosso senador. Então, não vejo que possa haver qualquer contratempo.
OE: No cargo, o senhor pretende promover alguma mudança no secretariado? O senhor vai manter a Maristela Requião na direção do Museu Oscar Niemeyer e Eduardo Requião no comando do escritório do Paraná, em Brasília?
OP: O que posso dizer, por enquanto, é que aqueles que, por livre iniciativa, quiserem deixar o governo, nós vamos substituir. Os demais, só vou fazer uma avaliação a partir de abril. Devo ter uma conversa com o governardor Requião sobre isso. Não tenho nada contra a permanência do Eduardo no governo. Ele, inclusive, já me perguntou se eu ia deixá-lo
OE: E quanto à liderança do governo na Assembleia Legislativa. Vai mudar?
OP: A questão de liderança de bancada, a bancada é que escolhe. Quanto à liderança do governo, devo ter uma conversa com a bancada de apoio, para juntos, definirmos essa questão.
OE: Nestes sete anos, as suas relações com o governador Roberto Requião têm tido altos e baixos. E agora, estão melhores ou piores?
OP: Eu entendo que melhoraram. Mesmo que vez ou outra a gente possa ter algum tipo de atrito, de divergência. Mas, hoje, eu tenho uma condição de diálogo, de conversação com ele, muito mais franca, muito mais aprofundada. Quando comecei na condição de vice do Requião, tinha uma relação superficial com ele, mesmo tendo sido líder do governo dele em 91 e 92 e presidente da Assembleia, em 93 e 94. Eu me considero hoje, muito mais conhecedor de Roberto Requião e ele muito mais conhecedor de Orlando Pessuti do que antes. Prosperou para melhor nosso relacionamento, embora ainda tenhamos divergências.
OE: Quais são essas divergências?
OP: É no estilo de fazer política. O nosso estilo é diferente do dele. Ele cobra que eu perco muito tempo com coisas menores, e que como candidato a governador, deveria estar preocupado e ocupado com temas maiores. Mas eu tenho dito a ele que, na sequência das coisas, isso naturalmente vai acabar acontecendo.
OE: A crítica que alguns peemedebistas fazem é que o senhor tem uma agenda muito provinciana e perde um tempo enorme com “festinhas do interior”.
OP: Vou em festas em Brasília, vou em festas em Curitiba e vou também num pequeno distrito do interior. Onde for possível ir, eu vou. É meu estilo. Eu faço política, talvez, até mais no contato pessoal do que na própria mídia. Mas é lógico que, a partir do momento em que estiver numa campanha majoritária, terei que fazer alguns ajustes. Hoje me reúno com o presidente da República e me reúno com vereadores, também. Nós temos desenvolvido nossa ação de acordo com a necessidade. Hoje eu não posso ocupar um espaço que é do governador Requião. Há coisas que só cabe ao governador fazer e eu não vou disputar espaço com ele.
OE: Que tipo de mudança a população no Paraná pode esperar no seu governo?
OP: O diferencial é que nós vamos estar numa condição mais próxima, eu acredito, do conjunto da sociedade. Eu vou continuar, mesmo com as mudanças que eu possa adotar no meu estilo, mas eu nunca deixarei de ter este contato pessoal, de estar permanentemente reunindo as pessoas, as lideranças e de estar visitando o interior. Agora, governo, acredito que pouca coisa seja necessário mudar. Afinal de contas, este governo que aí está eu ajudei a construir, participei da elaboração das propostas, e é um governo que tem 70%, 80% de aprovação. A questão da execução administrativa, das políticas públicas governamentais, poucas coisas serão alteradas, até porque teremos muito pouco tempo e muitas limitações do ponto de vista da lei eleitoral e da lei de responsabilidade fiscal.
OE: Quanto ao pedágio, o senhor vai ter uma outra forma de lidar com o problema ou mantém a linha do governo?
OP: A questão do pedágio não depende do Pessuti, depende de as concessionárias concordarem em reduzir o pedágio. Da nossa parte, nós queremos reduzir o pedágio, temos tentado fazer isso e vamos continuar tentando, na mesma linha que o governador Requião adotou até agora.
OE: A legislação eleitoral impõe algumas restrições para o período pré-eleitoral. O senhor, por exemplo, não poderá inaugurar obras. Até que ponto estar no governo será um diferencial já que o senhor estará bastante amarrado?
OP: As dificuldades, evidentemente, existirão, por causa da lei eleitoral e da lei de responsabilidade fiscal. Mas o conjunto de ações que nós temos em andamento em diversos setores, se nós consegurimos levar adiante o programa de obras que temos já autorizados pelo governador Requião e por nós, nesse período em que estamos governando, não haverá problemas. Através do conselho revisor, junto com as secretarias do Planejamento e da Fazenda, planejamos que as obras sejam executadas não apenas dentro deste ano de 2009, mas para até 31 de dezembro do ano que vem, por conta desses prazos.
OE: Mas o senhor não vai poder participar das inaugurações dessas obras. Não é uma desvantagem?
OP: Não tem problema, porque é o governo que estará inaugurando. E a partir do momento que eu esteja desenvolvendo um bom governo, assim como o Requião, nós vamos passar à população que temos condições de continuar à frente do gerenciamento do Estado e do País, eu e o Requião. O trabalho administrativo poderá contribuir assim para o trabalho político.
OE: O senhor se sente traído pelo grupo que trabalha pelo apoio do PMDB à candidatura do prefeito de Curitiba ao Governo?
OE: A crítica que o senhor fez ao prefeito Beto Richa (PSDB) num evento, em Curitiba, teve repercussão. O senhor vai continuar nessa linha mais dura ou foi apenas um momento?
OP: Eu não mudei minha postura naquele episódio. Eu apenas disse que entendia que ali não era o lugar para o prefeito fazer a manifestação. O lugar era quando a lei das concessões foi votada. Porque quando se aprovou a lei de implantação do pedágio, o prefeito estava lá, não pode agora ficar criticando preço de tarifa. Apenas rememorei os fatos. Coisa mais forte eu fiz na defesa da Copel, quando se votou a autorização para a venda da empresa. Eu saí da última fila do plenário e retirei à força da tribuna o Ribas Carli. Não é a primeira vez que eu contesto. Ser contundente não significa ser agressivo. Fui contundente, mas com ternura. E a contundência vai continuar. No exercício do governo, tenho que agir com firmeza e determinação. Com sinceridade e transparência.
OE: O senhor defende uma aliança do PMDB com o PT no Estado. Quem poderia ser um bom candidato a vice-governador na sua chapa?
OP: Uma pessoa que seria uma boa candidata é a Gleisi Hoffmann. Além da Gleisi, o Jorge Samek, a Lygia Pupatto também são pessoas que estão em condições de compor uma chapa concosco. É claro que a Gleisi, por ter disputado uma eleição de senadora e de prefeito de Curitiba, teria um perfil mais apropriado. Sendo eu do interior, o ideal seria compor com alguém que tivesse mais densidade eleitoral na capital
OE: O projeto de candidatura do governador Roberto Requião à presidência da República atrapalha ou ajuda as articulações no Estado?
OP: Ajuda e muito. Afinal de contas, o PMDB estará sendo promovido nacionalmente e sairá fortalecido desse processo porque terá um candidato a presidente. A candidatura do Requião é importante. E se não for a dele, uma outra também nos ajudará bastante.
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